Este homem, aos 79 anos, tinha a jovialidade de um puto de 20 anos. Sempre pronto a dizer a sua piadola, a quebrar com os cânones existentes, sempre sem receio de ter menos piada do que se espera. Porque um humorista é isto. Não pode arranjar uma fórmula para fazer rir, e depois insistir na mesma fórmula até ela ficar gasta, velha, enegrecida pelo tempo, e depois pensar que se calhar o problema são os outros, porque a fórmula é boa, e já fez rir. É como tudo na vida. Lá porque uma, duas, três vezes fizemos uma coisa de determinada forma e correu bem, não significa que nas próximas vezes vá correr bem. As pessoas e as personalidades mudam, o ambiente muda, o mundo muda. E se não nos apercebermos da mudança, ficamos presos ao passado, a perguntar porque é que as coisas já não funcionam. Quantas vezes não vamos buscar programas que achávamos um piadão quando éramos novos, e agora ao ver não achamos graça nenhuma? Ou, pelo contrário, vamos ver coisas que não achávamos piada nenhuma, e hoje em dia consideramos que aquelas coisas eram visionárias, muito avançadas para a época?
O Raul, felizmente para ele e para nós, soube evoluir. E nós agradecemos. Até sempre, Raul.
1 comentário:
"A vida num palco"
Não sendo eu da geração de Raúl Solnado, sei a perda irreparável que o seu desaparecimento provocou, numa época em que a comédia se confunde com o insulto brejeiro. O actor aprendeu com os melhores - João Villaret, António Silva e Vasco Santana -também por isso, merece estar na galeria dos imortais. Imaginemos a audácia e a inteligência de ridicularizar o Antigo Regime e os seus tabus, contornando a censura, utilizando jogos de palavras numa encapotada infantilidade. Foi um homem solidário que deu tudo pelo teatro, muitas vezes colocado acima dos interesses familiares.
http://dylans.blogs.sapo.pt/
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